Crise climática: Uma crise de saúde pública

A crise climática já é uma crise de saúde pública e ignoramos isso há tempo demais. Por Denise Curi, PhD.

Crise climática: Uma crise de saúde pública.

Quando falamos em crise climática, mudanças climáticas, ainda pensamos em algo distante: o gelo derretendo nas calotas, incêndios florestais na TV, gráficos coloridos em relatórios internacionais.

Mas a realidade é bem mais íntima. A crise climática está entrando dentro das nossas casas, dos hospitais e dos nossos corpos.

A saúde humana se tornou a linha de frente da emergência climática. E, se não tratarmos esse tema com a urgência que ele exige, não será apenas uma questão ambiental, será uma questão de sobrevivência.

Calor extremo: o novo risco invisível

O calor, que muitas vezes parece apenas desconforto, já é considerado pela OMS uma das principais ameaças climáticas à saúde. O mundo bateu recordes sucessivos de temperatura nos últimos anos, e isso não significa apenas dias quentes:

O calor mata, e mata rápido.

E, enquanto falamos de números, bairros inteiros nas grandes cidades sofrem efeito ilha de calor por falta de árvores, excesso de asfalto e ausência de políticas urbanas que tratem o clima como questão de saúde pública.

Doenças infecciosas estão mudando de endereço

O mosquito Aedes aegypti não é apenas um vetor biológico. É um termômetro da nossa incapacidade de adaptação.

Com o aumento da temperatura e da umidade, as áreas de risco se expandem. Regiões que antes não registravam dengue, chikungunya ou zika hoje convivem com surtos frequentes.

Temos também a expansão de doenças fúngicas, respiratórias e zoonóticas, a saber, uma combinação perigosa entre degradação ambiental, perda de biodiversidade e clima mais quente.

Não é coincidência. É consequência.

Água contaminada, enchentes e insegurança alimentar

As enchentes intensificadas pelo clima trazem um combo perigoso: contaminação da água, aumento de leptospirose, diarreias, hepatites, infecções, além do impacto imediato em mulheres, crianças e idosos.

A insegurança alimentar, por sua vez, cresce com a perda de safras e o aumento dos preços, nesse sentido, algo que afeta diretamente a saúde das famílias em situação de vulnerabilidade.

O clima não cria desigualdades, mas as aprofunda.

Saúde mental: a ferida silenciosa

Eventos extremos deixam cicatrizes emocionais profundas: ansiedade climática, perda de moradia, traumas pós-desastre, insegurança constante. Pesquisas já mostram aumento significativo de depressão e distúrbios psicológicos em regiões afetadas por incêndios e enchentes.

No fim do dia, a mudança climática é também uma mudança na forma como vivemos e, sobretudo, sentimos.

Crise climática: O frio extremo também está piorando, e mata mais do que o calor

Parece um paradoxo, mas não é. Com a mudança climática, vemos invernos mais curtos, porém mais severos em vários países. Frentes frias que chegam de forma abrupta, ondas de frio intenso que atingem populações despreparadas e eventos extremos que colocam milhões em risco.

O frio está diretamente associado a:

E, assim como no calor, as desigualdades determinam quem vive e quem morre.

Empregos verdes: parte da solução que ainda subestimamos

Se a crise climática já está custando vidas, a solução precisa ser multidisciplinar. E aqui entram os empregos verdes, que não são apenas uma categoria de trabalho: são uma política de saúde pública.

Eles atuam em três frentes:

1. Reduzem emissões

Menos emissões = menos agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares.

2. Preparam a cidade para os impactos

Cidades mais preparadas são cidades com menos mortos após enchentes, ondas de calor ou deslizamentos.

3. Criam ambientes mais saudáveis para viver

Isso significa ar mais limpo, alimentos mais seguros e espaços públicos que protegem e não adoecem.

Empregos verdes geram saúde. E saúde, por sua vez, cria resiliência social e econômica.

Se saúde é prioridade, clima precisa ser também.

Denise Curi, PhD, consultora e mentora em Sustentabilidade e ESG, destaca a urgência de ação imediata:

“Ignoramos há tempo demais o óbvio: não existe sistema de saúde forte em um planeta doente. A crise climática está entrando dentro das nossas casas, dos hospitais e dos nossos corpos, e é hora de reconhecermos a saúde como a linha de frente da emergência climática.”

Crise climática: A especialista aponta a COP30 como o momento decisivo para a mudança de paradigma. Entenda:

“Precisamos parar de tratar clima e saúde como dois mundos separados. Eles são o mesmo problema e a mesma solução. A COP30, realizada no Brasil, é a oportunidade de colocar saúde no centro das decisões climáticas, não como apêndice, mas como métrica de sucesso. Se falharmos aqui, falhamos em proteger o que mais importa: a vida.”

Sobre Denise Curi, PhD.

Denise Curi-Foto-Divulgação

Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Orientação para o Mercado em Empresas de Tecnologia pela Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, e equivalência em Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro (janeiro de 2019). Mestre e Bacharel em Administração de Empresas na área de Cultura Organizacional e Gestão da Qualidade, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Desde 2018, vive na cidade do Porto, onde é investigadora na Universidade de Aveiro.

Atualmente, dedica-se à Denpec Desenvolvimento Profissional e Consultoria desde 2014, onde auxilia organizações a integrar sustentabilidade e inovação em suas estratégias de negócios.

Sua carreira executiva inclui cargos no Grupo Rhodia SA (atual Solvay), HTMG Marketing Internacional, Sharp e Banco Real, nas áreas de Planejamento Estratégico, Marketing, Sustentabilidade e Controladoria. Teve um papel fundamental na implementação da reciclagem de PET em larga escala no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, trabalhando em parceria com empresas como Coca-Cola Company, Pepsi Company, Ambev, Plastivida, Cempre e Cadibisa.

Na área acadêmica, ministrou aulas na FIA-USP (Fundação Instituto de Administração), Centro Paula Souza e Universidade Mackenzie, onde coordenou a Agência Mackenzie de Sustentabilidade e o Curso de Pós-Graduação em Governança Corporativa, Responsabilidade Social e Sustentabilidade. É autora do livro “Gestão Ambiental” (Editora Pearson), além de diversos artigos e capítulos de livros sobre sustentabilidade e inovação sustentável no Brasil e no exterior. Foi vencedora dos prêmios de Melhor artigo científico na área de indicadores de sustentabilidade (Engema) e Melhor orientação de trabalho de conclusão de curso (ABIT), e atuou como jurada na Primeira Edição do Prêmio ABIHPEC-Beleza Brasil, na modalidade Cosméticos Sustentáveis.

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