Inovação e ética: Resiliência além do lucro
Inovação sustentável é a chave para um futuro resiliente.

Inovação e ética: Resiliência além do lucro. *Por Ana Paula Debiazi, CEO da Leonora Ventures.
O mito do crescimento a qualquer custo está com os dias contados. A mesma lógica que transformou startups em unicórnios também criou desertos de inovação, ecossistemas onde só sobrevivem os que conseguem queimar mais capital, não os que resolvem problemas reais.
Enquanto isso, uma pergunta persiste: é possível construir negócios escaláveis que não deixem pessoas e comunidades para trás? A resposta é “sim”, e está se tornando o único caminho viável para quem pensa em permanência.
Impacto social não é projeto, é modelo de negócio
O grande equívoco das últimas décadas foi tratar impacto social como um projeto paralelo, algo a ser adicionado depois que o negócio já estivesse consolidado.
Hoje, empresas que nascem com propósito embutido em seu modelo provam que a equação é outra: a relevância gera receita.
Quando uma solução melhora a vida de pequenos produtores, otimiza recursos em bairros carentes ou democratiza acesso a serviços básicos, ela não está fazendo caridade, mas criando mercados. E mercados reais, diferentemente de bolhas de especulação, têm a vantagem de ser sustentáveis.
O segredo está no território
Negócios que ignoram as particularidades culturais, econômicas e sociais do ambiente onde operam estão fadados, sobretudo, a ser mais um caso de estudo sobre “o que não fazer”.
Inovação de verdade exige imersão. De fato, não basta replicar um modelo que deu certo em São Francisco ou em Xangai se ele não dialoga com as ruas de Recife ou do interior de Minas.
As empresas que estão redesenhando setores inteiros são justamente as que entendem uma regra simples: tecnologia é ferramenta, não o fim. O que define o sucesso é a capacidade de ler necessidades locais e desenhar soluções a partir delas, não para elas.
A verdadeira inovação é a adaptação
E aqui surge um paradoxo interessante. Enquanto o Vale do Silício prega a disrupção radical, a verdadeira inovação sustentável muitas vezes vem da adaptação e não da destruição.
Por exemplo, um aplicativo de delivery que fortalece pequenos restaurantes familiares gera mais valor (e mais lealdade) do que um que os sufoca com taxas abusivas.
Ao mesmo tempo, uma fintech que educa financeiramente seus usuários enquanto oferece serviços constrói relações mais duradouras que aquela focada apenas em taxas de juros.
Então, o crescimento rápido pode até impressionar investidores no curto prazo, mas é o crescimento consciente que constrói legado.
A nova ética da inovação
Portanto, o desafio agora é sistêmico. Fundos de investimento precisam parar de premiar apenas métricas de vaidade e começar a medir o que realmente importa: quantas vidas foram impactadas positivamente, quantos empregos de qualidade foram criados, quanto da riqueza gerada permanece na comunidade.
Simultaneamente, venture builders têm a obrigação de formar empreendedores que saibam calcular não apenas o LTV (lifetime value) do cliente, mas o “valor vitalício” que seu negócio agrega à sociedade.
No fim, a nova ética da inovação não é sobre abrir mão do lucro, e sim sobre entendê-lo como resultado ao invés de objetivo único.
Dessa forma, empresas que operam nessa lógica descobrem algo transformador: quando você resolve a dor real, o mercado retribui com fidelidade e resiliência. E isso, sim, é o tipo de crescimento que não se desfaz na primeira crise.
O futuro pertence a quem ousar reinventar mais que produtos, ou seja, o próprio significado de prosperidade.

*Ana Paula Debiazi é CEO da Leonora Ventures, corporate venture builder catarinense, que tem a missão de impulsionar o crescimento de startups que atuam com tecnologias inovadoras no setor de varejo, logística e educação.
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